“Immaculate” – assim nasce uma scream queen

*contém spoilers*

Este é o segundo filme de Michael Mohan com a participação de Sydney Sweeney e produzido também pelo mesmo. Immaculate foi descrito como uma mistura entre Rosemary’s Baby (1968) e Suspiria (1977); essa comparação encapsula exatamente a essência do filme. A ação passa-se num convento em Itália com a chegada de Cecília (Sydney). Cecília é-nos apresentada como ingénua e muito dedicada ao seu caminho sagrado. Não sabe uma palavra de italiano e, por ser estrangeira, sente uma certa alienação das outras freiras no convento. Conhece o padre Tedeschi (Álvaro Morte), a quem explica porque decidiu dedicar a sua vida a Deus. Com 12 anos, Cecília sofreu um acidente que a deixou morta por sete minutos; acredita que apenas sobreviveu por causa da vontade de Deus.

Passado pouco tempo após fazer os seus votos, Cecília fica misteriosamente grávida. Cecília diz que não quebrou o seu voto de castidade e é examinada pelo médico do convento, que confirma que Cecília permanece uma virgem intacta. Isto só pode significar que a gravidez de Cecília é um milagre e vai dar à luz o novo salvador. Mas rapidamente Cecília percebe que algo está errado no convento e que o que está dentro dela é na verdade maligno.

O grande destaque deste filme é a própria Sydney Sweeney, que se revelou como uma verdadeira “scream queen”. Sydney tem tido dificuldade desde que ganhou fama em ser vista como uma atriz “séria”. Sydney provou que consegue ser eclética como atriz e que interpreta muito bem personagens mais obscuras. Como “scream queen”, a atriz fez um excelente trabalho; a presença dela foi soberba e impactante. Álvaro Morte desempenhou igualmente bem o seu papel.

O conceito do filme é original. É muito comum dentro do género do terror explorar ambientes e conceitos religiosos, mas em vez de pegar no típico sobrenatural, Immaculate segue um caminho mais “realista”, digamos. A própria existência de Deus é questionada num momento do filme, após Cecília descobrir o que realmente se passa no convento. Ela pergunta ao cardeal por que é que ele pensa que aquilo que está dentro dela vem de Deus. A resposta dele: porque, se não fosse ele, tentaria impedir esta situação. A verdade é que Deus não tenta intervir no que está a acontecer, o que deixa Cecília suspensa na sua fé, pois acreditava que Deus tinha um propósito para ela.

Há quem descreva o filme como camp. Pessoalmente, não encontrei elementos do camp nem nos diálogos nem na trama do filme. Penso que, por se inserir no género do terror, que automaticamente possa ser visto como camp; no entanto, acho que a atribuição do conceito camp é usada em demasia e, portanto, mal atribuída. Não é um horror “elevado”, mas deixa o espectador entretido e assustado com bons jump scares.

A cena final é onde nasce a “scream queen” da Sydney Sweeney. Temos um plano aproximado da cara de Cecília enquanto dá à luz; a sua cara está coberta de sangue e grita de dor por bastante tempo. Finalmente, nasce o bebé; nunca chegamos a ver como é, mas percebemos que não é bem humano por ter uma respiração estranha em vez de chorar. Cecília olha para ele sabendo o que vai ter que fazer. Corta o cordão umbilical com os dentes, agarra um pedregulho e atira-o para cima do recém-nascido, gritando por uma última vez.

Filipa Burnay

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